
Ano: 2017
Direção: Zak Hilditch
Roteiro: Zak Hilditch
Elenco: Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid, Kaitlyn Bernard, Neal McDonough, Brian d’Arcy James
“Em 1922, o orgulho de um homem era a sua terra. Bem como o seu filho”, diz Wilfred James (Thomas Janes) logo nos primeiros minutos de 1922, a mais nova adaptação de uma obra de Stephen King para o audiovisual – em um 2017 recheado delas, diga-se de passagem. E esse diálogo do protagonista aponta o norte do filme. É sobre um homem, suas terras, seu filho… e algo a mais.
Quando a esposa de Wilfred, Arlette (Molly Parlker), recebe uma grande fazenda de herança de seu pai falecido, ela pensa em vendê-la, deixar a vida no campo para trás, se separar e ir para a cidade. Além disso, ela pretende levar junto o filho do casal, Henry (Dylan Schmid). Leia a primeira frase do texto novamente. Pois é, os desejos de Arlette vão bater de frente com os pensamentos de James.
O marido, então, passa a imaginar alternativas de ficar com as terras, mas Arlette é uma mulher decidida e não cede – o que enfurece James ainda mais. O homem passa a cogitar matar a sua esposa e, para isso, acaba pedindo ajuda para Henry. Com o poder persuasivo de Wilfred, que começa a jogar o garoto contra a mãe, o menino topa ajudar o pai a dar um fim em Arlette – sim, é uma loucura – e mentir para todos que ela foi embora.
Após os dois executarem o plano de Wilfred, obviamente, os problemas começariam a aparecer. E, uma vez que, naquela época, o sumiço de uma esposa era problema do marido, como o próprio protagonista diz, as complicações não são com a lei, mas com algo ainda mais grave: a culpa. Ela corrói, destruindo a alma e a mente de quem a carrega. Isso é exemplificado com o passar do tempo de projeção, no semblante dos personagens e no cenário, que vai virando cada vez mais acinzentado e frio.
O longa se utiliza de interessantes – e peludos – elementos para demonstrar essa degradação: ratos. Os animais estão ali com o objetivo de destruir tudo aquilo que Wilfred ama, como pragas implacáveis e insaciáveis, que colaborarão para deixar a mente do protagonista ainda mais transtornada.
Com um primeiro ato corrido demais e um segundo que se arrasta, com momentos inexplicavelmente apressados (como o bancário que vai procurar por Arlette e, ao descobrir que ela “fugiu”, passa a desconfiar de Wilfred), o longa consegue, mesmo assim, passar angustia e tensão, construindo toda uma atmosfera melancólica. O terror, apesar de estar presente e ser bem utilizado – como é de se esperar de uma adaptação de King –, não é o prato principal de 1922.
O diretor e roteirista Zak Hilditch consegue criar bons momentos tensos, mas é o seu trabalho com o clima e os sentimentos que se sobressai. A sensação de não ter como voltar atrás de uma atitude estúpida e imperdoável transpassa a tela e nos coloca em uma posição angustiante, que varia entre raiva e melancolia, torcendo para reverter o irreversível.
A ambientação dos anos 1920, nos poucos momentos em que o longa se passa na cidade, é ótima. Além disso, temos uma incrível performance de Thomas Jane, dando vida a um homem do campo que passa de maldoso e calculista, até alguém que está destruído física e mentalmente. A sequência, próxima ao fim, em que ele conversa com o seu vizinho Harlan Cotterie (Neal McDonough), sendo filmado em plongée, representa tudo aquilo que ele se tornou ao longo do filme: o mais inferior dos seres humanos. E a câmera alta, ali, é o oposto do contra-plongée utilizado quando Wilfred olha para o poço em que está o corpo de sua esposa, no suposto controle da situação, fazendo esse ótimo contraponto entre o início e o fim da película.
Como já dito, 2017 está sendo o ano das adaptações de Stephen King, entregando produtos de variados investimentos e qualidades, desde o arrasa-quarteirão It: A Coisa, passando pelo fiasco de A Torre Negra e o interessante Jogo Perigoso, até a já cancelada série O Nevoeiro. No entanto, 1922 se mostra uma obra diferenciada nessa invasão do mestre do terror às telas, em que o homem é o monstro e, também, o personagem perseguido. E é por uma caçadora implacável: sua própria consciência.
Nota do crítico:
Nota dos usuários:
Latest posts by Carlos Redel (see all)
- Mulher-Maravilha 1984: os problemas, os acertos e a falta do Latino | SalaCast #05 - 17 de janeiro de 2021
- Netflix | Saiba quais filmes e séries chegam ao catálogo nesta semana (20/12 – 26/12) - 20 de dezembro de 2020
- Crítica da 2ª temporada de The Mandalorian - 20 de dezembro de 2020